Eloy Melonio é professor, escritor, letrista e poeta.
Segunda-feira, 17 de fevereiro, 5h45. Ligo o rádio e vou lá fora apreciar o dia. A meia-lua se despedia de seu esplendor noturno. Deu-me vontade de dar um alô ao Sol que se preparava para assumir seu posto. Não uma saudação qualquer, pois outros já deveriam estar fazendo o mesmo. Sem pensar, soltei um “gold morning!”.
Pura agitação! Na noite anterior, havia decidido escrever alguma coisa sobre um programa de rádio que nos cativa todas as manhãs. E, nessa intenção, precisava acompanhar cada minuto do programa. Precavido, deixei um recado para mim mesmo sobre a mesa da copa numa folha de papel A4, em letras capitais: MANHÃ NEWS.
Amanheceu e — acreditem! — apressei-me para preparar nosso “breakfast”. À mesa, eu, minha esposa e minha neta, e pouca conversa. Um silêncio exagerado, não habitual. Até nossos pets pareciam estar nessa vibe de tão quietinhos que ficaram.
Estávamos com nosso novo radinho, um MOTOBRÁS 7 faixas, comprado três dias antes. O antigo, adquirido na feira da Cohab por RS 40,00, havia quebrado. Por causa disso, vivi duas semanas sob pressão: “Meu bem, e o nosso radinho?!” Coçava a cabeça e não dizia nada. No sábado ado, a caminho de um evento social, parei numa loja que vende instrumentos musicais, antenas etc. Dez minutos depois, voltei ao carro com um saquinho de plástico. “O que é isso?”, perguntou ela. Disfarcei e joguei o saquinho sobre suas coxas. Imediatamente, ela o abriu. Olhou para mim e soltou um sorriso tão sincero que não precisava dizer mais nada.
E aqui confesso que esse lero-lero é apenas o preâmbulo do nosso assunto: um programa de rádio.
Pois é, esta crônica não é uma homenagem. Trata-se simplesmente de “reconhecimento”. Já faz algum tempo que minha atenção se rendera ao Manhã News, no qual acompanho uma “dupla” super super sensacional na Difusora News (93.1). A redundância, aqui, é necessária, e o “simplesmente” revela algo natural, espontâneo. Desculpem essas explicações, mas — em algum momento — elas podem ser necessárias.
O programa é apresentado por duas mulheres joviais, descontraídas, com espírito de menina. Para falar delas, sinto-me, de certa forma, invadido por um Cazuza caduco tentando, exageradamente, traduzir essa experiência radiofônica. Na verdade, quero apenas descrever o que sinto, pois essa decisão veio de um insight que não sei explicar direito.
As damas do Manhã News são Jéssica Almeida e Luciana Ferreira, uma dupla que bate um bolão e só faz gols de placa. Consequentemente, as manhãs de segunda a sexta, das sete às dez, são um show à parte. Muita simpatia, humor, intimidade, zoeira. Sem esquecer a boa música e as pitadas de informação aqui e ali. E tudo na hora certa, na modulação certa, no espírito certo. Desviando-se desse “certo”, as risadas simultâneas (delas e dos ouvintes), as frases de efeito, as sacadas geniais, as brincadeiras espirituosas.
Exageros à parte, poderia dizer o seguinte sobre essas “queridinhas” (parafraseando a música “Desenho de Deus”, do Natiruts): quando Deus lhes desenhou, era manhã de sol e Ele estava ali, ouvindo rádio na praia do Araçagi. Agora, transcrevendo a música: “Tirou a sua voz do própolis do mel/ E o seu sorriso meigo de algum lugar do céu”.
Seus coadjuvantes “da hora” são os ouvintes que enviam áudios. Todos no mesmo tom, ou seja, espirituosos, animados e, às vezes, um pouco “salientes”. Nessa festa, tudo é motivo de piadas, comentários. São tantas coisas que não ouso relatá-las aqui. Mas algumas são inevitáveis, como um ouvinte que enviou seu áudio de um ônibus, a caminho do trabalho. No geral, muitos servem de repórteres voluntários, dando dicas do trânsito, relatando ocorrências (alagamentos, buracos). Nesse grupo, os protagonistas são os motoristas de aplicativos.
Chama a atenção, de forma justificada, a predominância masculina nas participações. E, aí, vez por outra, escapa um “santo” galanteio: “Nos menores frascos estão as melhores essências”; “(Vocês) são minha misturinha de toda manhã: juçara com açaí” (Luciana é paraense). Um motorista que vem de Barreirinhas (quase) todos os dias, revela que, quando não está aqui, sofre de “abstinência radiofônica”. Alguns se despedem com “Um beijo!”. Outros as saúdam com um “Bom dia, meninas!”; “Minhas musas do rádio!” e “Meninas superpoderosas”.
Essas meninas interagem com atenção, carinho e apreço. Apesar do clima informal, sempre com muito respeito. Não raro, caem na gargalhada. E, assim, não poderia deixar escapar algumas de suas falas nessa interação: “Muito bem, garoto!”; “Arrasou, querida!”; “Não é, bonitinha?”; “Musa?! Há háháháhá”; “Ah, que lindo!”; “Adoro!!!!”; “Beijão pra você, maravilhoso!”
Não é todo dia que se pode ter uma manhã “gold”. Mas, de segunda a sexta, é (quase) certeza. Desde que você esteja na companhia das “bonitinhas” Jéssica e Luciana.
Imagem destacada / Divulgação: As “bonitinhas” Jéssica Almeida e Luciana Ferreira.
2 respostas em “Gold Morning”
Perfeito ! Descontração e informação é o q precisamos pra encarar nosso dia a dia .
Perfeito ! Descontração e informação é o q precisamos pra encarar nosso dia a dia . Excelente texto.